JESUS, EU CONFIO EN VÓS

Somo Servos da Misericórdia Divina.

O que é extraordinário, nos textos e mensagens entre Jesus e a Irmã Faustina, é que em qualquer dos textos citados podemos identificar-nos com a Irmã Faustina, como se estas mensagens estejam diretamente dirigidas a cada um de nós. A alma que tem sede de Deus, e por ter procurado uma intimidade com Ele, mas sem saber como a alcançar, está agora em plena consciência, enquanto anteriormente não distinguia claramente a Sua voz, nem compreendia a Sua mensagem, a partir da leitura das declarações de Jesus e suas interpretações da Irmã Faustina, o véu abriu-se e agora tudo ficou transparente e nítido.

Estas mensagens, que nos foram dirigidas, ao longo de toda a nossa vida, ganharam sentido, ultrapassando a barreira do tempo e agora disponíveis e compreensíveis para todos aqueles que o desejam, em comunhão com os Santos e a Santa Igreja, pela graça da Misericórdia Divina.


Diariamente, colocaremos citações da obra de Santa Faustina, ou de outros autores que também receberam graças muito especiais, que o ajudará, com certeza, na sua meditação diária.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Na plenitude dos tempos, veio a nós a plenitude da divindade 


Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador (cf. Tt 3,4). Demos graças a Deus que nos dá tão abundante consolação neste exílio, nesta peregrinação, nesta vida tão miserável.

Antes de aparecer a sua humanidade, a sua bondade também se encontrava oculta; e, no entanto, esta já existia, porque a misericórdia do Senhor é eterna. Mas como poderíamos conhecer tão grande misericórdia? Estava prometida, mas não era experimentada e por isso muitos não acreditavam nela. Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou por meio dos profetas (cf. Hb 1,1). E dizia: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). E o que respondia o homem, que experimentava a aflição e desconhecia a paz? Até quando direis paz, paz e não há paz? Por esse motivo, os mensageiros da paz choravam amargamente (cf. Is 33,7), dizendo: Senhor, quem acreditou no que ouvimos? (cf. Is 53,1). Agora, porém, os homens podem acreditar ao menos no que vêem com seus olhos, pois os testemunhos de Deus são verdadeiros (cf. Sl 92,5); e para se tornar visível, mesmo àqueles que têm a vista enfraquecida, armou uma tenda para o sol (Sl 18,6).

Agora, portanto, não se trata de uma paz prometida, mas enviada; não adiada, mas concedida; não profetizada, mas presente. Deus Pai a enviou à terra, por assim dizer, como um saco pleno de sua misericórdia. Um saco que devia romper-se na paixão para derramar o preço de nosso resgate nele escondido; um saco, sim, que embora pequeno estava repleto.Pois, um menino nos foi dado (cf. Is 9,5), mas nele habita toda a plenitude da divindade (Cl 2,9). Quando chegou a plenitude dos tempos, veio também a plenitude da divindade.

Veio na carne para se revelar aos que eram de carne, de modo que, ao aparecer sua humanidade, sua bondade fosse reconhecida. Com efeito, depois que Deus manifestou sua humanidade, sua bondade já não podia ficar oculta. Como poderia expressar melhor sua bondade senão assumindo minha carne? Foi precisamente a minha carne que ele assumiu, e não a de Adão, tal como era antes do pecado.

Poderá haver prova mais eloqüente de sua misericórdia do que assumir nossa miséria? Poderá haver maior prova de amor do que o Verbo de Deus se tornar como a erva do campo por nossa causa? Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho? (Sl 8,5). Por isso, compreenda o homem até que ponto Deus cuida dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Não perguntes, ó homem, por que sofres, mas por que ele sofreu por ti. Vendo tudo o que fez em teu favor, considera o quanto ele te estima, e assim compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto menor se tornou em sua humanidade, tanto maior se revelou em sua bondade; quanto mais se humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o Apóstolo: Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador. Na verdade, como é grande e manifesta a bondade de Deus! E dá-nos uma grande prova de bondade Aquele que quis associar à humanidade o nome de Deus.


--São Bernardo, abade (século XII)
Fonte: Tesouros da Igreja católica

terça-feira, 29 de março de 2016



«Vistes Aquele que a minha alma ama?» (Ct 3,3)
«Porque choras?» És tu a causa das tuas lágrimas, é por tua causa que choras. [...] Choras porque não acreditas em Cristo; acredita e vê-Lo-ás. Cristo nunca deixa de aparecer a quantos O procuram. «Porque choras?» Não é de lágrimas que precisas, mas de uma fé atenta e digna de Deus. Não penses nas coisas mortais e não chorarás. [...] Porque choras com aquilo que alegra os outros?
«A quem procuras?» Não vês que Cristo é a força de Deus, que Cristo é a sabedoria de Deus, que Cristo é santidade, que Cristo é castidade, que Cristo é pureza, que Cristo nasceu de uma virgem, que Cristo é do Pai e está junto do Pai e está sempre no Pai; nascido mas não criado, nem caído, sempre amado, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro? «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram.» Enganas-te, mulher; pensas que Cristo foi levado do túmulo por outros e que não ressuscitou pelo seu próprio poder. Mas ninguém retira o poder a Deus, ninguém retira a sabedoria a Deus, ninguém Lhe retira a venerável castidade. Cristo não foi levado do túmulo de justiça e de intimidade da Virgem, nem do segredo da sua alma fiel; e, mesmo que haja quem queira apoderar-se dele, tal não é possível.
Então Jesus disse-lhe: «Maria, olha para Mim.» Enquanto não acreditou, era «mulher»; quando começou a voltar-se para Ele, recebeu o nome de Maria, o nome daquela que deu Cristo à luz, porque é a alma que dá Cristo espiritualmente à luz. «Olha para Mim», disse Ele. Quem olha para Cristo corrige-se; é quando não vemos a Cristo que nos enganamos. E ela, voltando-se, disse: «Rabuni!», que quer dizer: «Mestre!» Quem olha, volta-se; quem se volta, capta de forma mais completa; quem vê, progride. É por isso que ela chama Mestre Àquele que julgava estar morto: porque encontrou Aquele que julgava estar perdido.

Santo Ambrósio (c. 340-397)
Bispo de Milão, Doutor da Igreja

sexta-feira, 4 de março de 2016

Se me disserem: “Mostra-me o teu Deus”, dir-te-ei: “Mostra-me o homem que és e eu te mostrarei o meu Deus”. Mostra, portanto, como vêem os olhos de tua mente e como ouvem os ouvidos de teu coração.
São Teófilo de Antioquia, bispo (Séc.II)

Os que vêem com os olhos do corpo, percebem o que se passa nesta vida terrena, e observam as diferenças entre a luz e as trevas, o branco e o preto, o feio e o belo, o disforme e o formoso, o que tem proporções e o que é sem medida, o que tem partes a mais e o que é incompleto; o mesmo se pode dizer no que se refere ao sentido do ouvido: sons agudos, graves ou harmoniosos. Assim também acontece com os ouvidos do coração e com os olhos da alma, no que diz respeito à visão de Deus.

Na verdade, Deus é visível para aqueles que são capazes de vê-lo, porque mantêm abertos os olhos da alma. Todos têm olhos, mas alguns os têm obscurecidos e não vêem a luz do sol. E se os cegos não vêem, não é porque a luz do sol deixou de brilhar; a si mesmos e a seus olhos é que devem atribuir a falta de visão. É o que ocorre contigo: tens os olhos da alma velados pelos teus pecados e tuas más ações.

O homem deve ter a alma pura, qual um espelho reluzente. Quando o espelho está embaciado, o homem não pode ver nele o seu rosto; assim também, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus.

Mas, se quiseres, podes ficar curado. Confia-te ao médico e ele abrirá os olhos de tua alma e de teu coração. Quem é este médico? É Deus, que pelo seu Verbo e Sabedoria dá vida e saúde a todas as coisas. Foi por seu Verbo e Sabedoria que Deus criou o universo: A Palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas (Sl 32,6). Sua Sabedoria é infinita. Com a sua Sabedoria, Deus fundou a terra; com a sua inteligência consolidou os céus; com sua ciência foram cavados os abismos e as nuvens derramaram o orvalho.

Se compreenderes tudo isto, ó homem, se a tua vida for santa, pura e justa, poderás ver a Deus. Se deres preferência em teu coração à fé e ao temor de Deus, então compreenderás. Quando te libertares da condição mortal e te revestires da imortalidade, então serás digno de ver a Deus. Sim, Deus ressuscitará o teu corpo, tornando-o imortal como a tua alma; e então, feito imortal, tu verás o que é Imortal, se agora acreditares nele.

-- Do Livro A Autólico, de São Teófilo de Antioquia, bispo (Séc.II)
Fonte: TESOUROS DA IGREJA CATÓLICA

sábado, 16 de janeiro de 2016

O Verbo do Pai tudo criou e governa



O Pai santíssimo de Cristo – sem comparações mais excelente do que toda a criatura – como ótimo criador, tudo governa, dispõe e faz convenientemente o que lhe parece justo, por sua sabedoria e por seu Verbo, Cristo, nosso Senhor e Salvador. Assim é bom que tudo tenha sido e venha a ser feito como vemos. Que ele o tenha querido assim, ninguém pode duvidar. Porque, se o movimento dos seres criados se fizesse desordenadamente e o mundo girasse ao acaso, com toda a razão se negaria crédito ao criador. Mas, se com medida, sabedoria e ciência o mundo foi criado e enriquecido de toda beleza, não há como fugir que este criador e aperfeiçoador é o próprio Verbo de Deus.
Afirmo que o Verbo do Deus do universo e de todo o bem é o Deus vivo e eficaz que existe por si próprio. Distinto de tudo criado, ele é o próprio e único Verbo do Pai de bondade, por cuja providência o mundo inteiro, por ele feito, é iluminado. Ele, que é o bom Verbo do bom Pai, estabeleceu a ordem de todas as coisas, uniu entre si os contrários, compondo assim grande harmonia. Este único e unigênito é Deus: a bondade que procede do Pai, como de fonte do bem, e adorna, dispõe e mantém todo o universo.

Aquele que por seu eterno Verbo tudo fez, fazendo existir as criaturas cada qual conforme a própria natureza, não permitiu que elas se movessem arbitrariamente, a fim de que não retornassem ao nada; por isso, ele, que é o bem, por meio do seu Verbo, Deus como ele, governa e conserva toda a criação. Deste modo, a criação, iluminada pelo governo, providência e administração do Verbo, pode permanecer firme e manter-se coesa. Portanto, a criação, obra do Verbo do Pai – Verbo que é o próprio ser – dele participa e é por ele auxiliada, a fim de não cessar de existir, o que aconteceria, caso não fosse guardada pelo Verbo, que é a imagem do Deus invisível, primogênito de toda criatura. 

Por ele e nele tudo existe, tanto as coisas visíveis quanto as invisíveis. Ele é também a cabeça da Igreja, como ensinam os ministros da verdade nas Sagradas Escrituras.

Por conseguinte, este todo-poderoso e santíssimo Verbo do Pai, penetrando em tudo, desdobra por toda a parte as suas forças, e ilumina todas as coisas visíveis e invisíveis. Em si mesmo contém e abraça todas, de modo que não deixa nada alheio a seu poder, mas em tudo e por tudo, a cada um em particular e a todos em conjunto concede a vida e a proteção.

-- Do Discurso contra os gentios, de Santo Atanásio, bispo (século IV)
Fonte: TESOUROS DA IGREJA CATÓLICA

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Sim, eu fui salva pela misericórdia
da Virgem Santa Maria


Em 1647, Irmã Catarina, religiosa que morava em Quebec, rezava, fervorosamente, pelas almas dos mortos, porém, não rezava nem pensava em Maria, uma senhora que lhe era próxima, conhecida como pecadora empedernida. Como todas as pessoas que a conheciam, Irmã Catarina achava que se tratava de uma alma condenada para sempre. Aconteceu que, um dia, a pecadora lhe apareceu, do purgatório:
“Irmã Catarina, vós recomendais a Deus as almas daqueles que morrem, mas não tendes pena da minha alma!” “O quê! Vós fostes salva?” ─ Perguntou Irmã Catarina ─ “Sim, eu fui salva pela misericórdia da Virgem Santa. Quando vi-me a morrer, tão cheia de pecados, voltei-me para a mãe de Deus, e disse: Ó Nossa Senhora! (...) Somente vós podeis salvar-me, tende piedade de mim!”.
“A Santíssima Virgem fez com que eu fizesse um ato de contrição, eu morri e fui salva. Minha boa e querida Rainha me concedeu outra graça: que a intensidade dos meus sofrimentos abreviasse o tempo da minha expiação. (...) Bastam-me, agora, apenas algumas Missas, para que eu seja libertada do purgatório (...)”.
Irmã Catarina mandou celebrar Missas em sua intenção e, poucos dias depois, aquela alma tornou a lhe aparecer, mais brilhante que o sol, dizendo: “Obrigada, irmã Catarina, eu estou indo para o céu, vou cantar as misericórdias de meu Deus e rezar por vós.”
Vie de Sœur Catherine de Saint-Augustin, livre IV, ch.III 
(Vida de Irmã Catarina de Santo Agostinho, livro IV, capítulo III)

domingo, 10 de janeiro de 2016



                         Lectio Divina

Lectio Divina é a leitura crente e orante da Palavra de Deus. Na sua origem, ela nada mais é que a leitura que
os cristãos faziam da Bíblia para animar sua fé, esperança e amor. Ela é tão antiga quanto a própria Igreja, 
que vive da Palavra de Deus e dela depende como a água da sua fonte (Dei Verbum 7.10.21).

Inicialmente, não era uma leitura organizada e metódica, mas era a própria Tradição que se transmitia, 
de geração em geração, através da prática do povo cristão. A expressão Lectio Divina vem de Orígenes. 
Ele diz que, para ler a Bíblia com proveito, é necessário um esforço de atenção e de assiduidade: "Cada 
dia, de novo, como Rebeca, temos de voltar à fonte da Escritura!" E o que não se consegue com o
 próprio esforço, assim ele diz, deve ser pedido na oração, "pois é absolutamente necessário rezar para 
poder compreender as coisas divinas". Deste modo, assim ele concluiu, chegaremos a experimentar o 
que esperamos e meditamos.

Para São Bento, a LD conduz à perfeição: para São Bernardo, infunde sabedoria; para São Ferreolo, cria
 o fervor espiritual; para Bernardo Ayglier, dissipa a cegueira da monte, ilumina o entendimento, sana 
a debilidade do espírito, sacia a fome da alma produz a contrição do coração. 

Seus frutos são:

1 . Viver, pensar e falar como a Bíblia: As idéias, expressões, imagens da Escritura se convertem 
no patrimônio espiritual . A Bíblia passa a formar parte integrante da personalidade. Ao apropriar-se 
da palavra de Deus, a pessoa vive, pensa e fala com a Bíblia e como a Bíblia. 

2. Maturidade na fé: a LD edifica e constrói a alma porque o homem é o que lê. O homem novo que 
cada um se empenha ser no batismo, chega, pela LD, à maturidade. O homem novo, para ser interlocu-
tor válido de Deus precisa ter a Escritura enraizada em si, isto é, se torna a própria substância da pessoa
 e conceber continuamente a Palavra de Deus no coração. 

3. Piedade objetiva: a LD edifica-se sobre acontecimentos, modelos e mistérios reais com que o cristão
 procura identificar-se e não se baseia em imaginação e sentimentalismo.

4. Vida de oração: Ao responder às interpelações de Deus, em sua Palavra a pessoa ora, fala com Deus
 louvando, agradecendo, suplicando e intercedendo, de acordo com a sua situação.

5. Experiência de Deus: significa estar unido a Deus por meio de Cristo. A alma da pessoa sente-se 
íntima e fortalecida com a presença dele. A pessoa sabe, percebe, saboreia a sua presença.

6. Alegria interior: São Paulino de Nola assim descreve a prática da LD: "Viver com a palavra de 
Deus, meditá-las sem saber nada fora delas, não te parece que é ter aqui na terra uma morada do 
reino celeste?".

MÉTODO DOS QUATRO DEGRAUS

A sistematização da LD em quatro degraus veio no séc XII, Por volta do ano 1150, através de um monge
 cartuxo, chamado Guigo. Disse ele: "Certo dia, durante o trabalho manual, quando estava refletindo
sobre a atividade do espírito humano, de repente se apresentou à minha mente a escada dos quatro
 degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação. É verdade, a escada tem 
poucos degraus, mas ela é de uma altura tão imensa e inacreditável que, enquanto a sua extremida-
de inferior se apoia na terra, a parte superior penetra nas nuvens e investiga os segredos do céu"

1. Leitura
A leitura é o primeiro passo para se conhecer e amar a Palavra de Deus. Não se ama o que não se conhece.
É o primeiro passo para familiarizar-se com a Bíblia, para que ela se torne nossa palavra, capaz de
expressar  nossa vida e nossa história, pois ela “foi escrita para nós que tocamos o fim dos tempos” 
(1Cor 10,11).

A leitura é o ponto de partida, não é o ponto de chegada. Recomenda Orígenes: “Vejam se seguram as 
palavras divinas de forma a não deixá-las cair, escapar das mãos, e assim perdê-las. Quero exortá-
los com um exemplo tirado dos costumes religiosos. Quem assiste habitualmente aos Divinos Misté-
rios sabe com que precaução, cheia de respeito, segura o Corpo do Senhor, quando lhe é entregue;
 não vá cair alguma migalha e perder-se uma parte do tesouro sagrado. Sentir-se-ia culpado, e 
com razão, se por negligência alguma coisa se perder: Se quando se trata do Corpo do Senhor se
 tem tanto cuidado, como pensar que negligenciar a Palavra de Deus tem menos importâcia?” 

Todos temos dificuldades em ler. Há o vício de ler em diagonal, ler depressa demais, ler para encher
 tempo, falta de gosto pela leitura, falta de tempo, de interesse, de método. Pertencemos à civilização 
da imagem, espectadores passivos da TV ou das revistas. Ler, copiar o texto mais de uma vez. Ler os 
lugares paralelos indicados na Bíblia ou nas notas. “A Escritura se interpreta por si mesma” é o grande
 critério rabínico da LD.

A Palavra pode ser difícil, estranha, exigente, não dizer nada. Há vazios, silêncios. Não fugir do vazio da 
tentação de escutar rádio ou folhear revista é lamentável. Não ter medo de sentir a incapacidade de rezar
 e de o experimentar é uma graça. Não leias simplismente com os olhos, mas procura imprimir o texto 
em teu coração

O objetivo da leitura é ler e estudar o texto até que ele, sem deixar de ser ele mesmo, se torne espelho para 
nós mesmos e nos reflita algo da nossa própria experiência de vida. A leitura deve familiarizar-nos com
 o texto 
a ponto de ele se tornar nossa palavra. Cassiano dizia: “Penetrados dos mesmos sentimentos em que foi 
escrito o texto, tornamo-nos, por assim dizer, os seus autores”. E aí, como que de repente, damo-nos
 conta de que, por meio dele, Deus está querendo falar conosco e nos dizer alguma coisa. Nesse instante, 
dobramos  a cabeça, fazemos silêncio a brimos o ouvido: “Vou ouvir o que o Senhor nos tem a dizer!” 
(Sl 85,9). É nesse momento que a leitura se transforma em meditação. 

2. Meditação

A meditação vai responder à pergunta: o que diz o texto para mim, para nós? A meditação indica o
 esforço que se faz para atualizar o texto e trazê-lo para dentro do horizonte da nossa vida e realidade 
tanto pessoal como social. O texto deve falar-nos. 

Guigo dizia: “A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão, 
procura conhecimento da verdade oculta”. Através da leitura, descobrimos o contexto da época. No
 entanto, a fé  nos diz que esse texto, apesar de ser de outra época e de outro contexto, tem algo a nos
 dizer hoje.

Uma primeira forma de se realizar a meditação é sugerida pelo próprio Guigo. Ele manda usar a mente
 e a razão para poder descobrir a “verdade oculta”. Entra-se em diálogo com o texto, com Deus, fazendo
 perguntas que obrigam a esar a razão e que procuram trazer o texto para dentro do horizonte da nossa 
vida. Por exemplo: Quais os conflitos de ontem que existem hoje? 

A outra forma é repetir o texto, ruminá-lo até descobrir o que ele tem anos dizer. É o que Maria fazia
 quando ruminava as coisas no coração (Lc 2,19-51). É o que recomenda o salmo ao justo: “Meditar 
dia e noite na lei do Senhor” (Sl 1,2). É o que Isaías define com tanta precisão: “Sem Iahweh, o teu
 nome e a lembrança de ti resumem todo o desejo da nossa alma” (Is 26,8). 

Após ter feito a leitura e ter descobrido o seu sentido para nós, é bom procurarmos resumir tudo numa
 frase, de preferência do próprio texto bíblico, para ser levada conosco na memória e ser repetida e 
mastigada  durante o dia, até se misturar com o nosso próprio ser.

A meditação aprofunda a dimensão pessoal da Palavra de Deus. Na Bíblia, quem dirige a Palavra é 
Deus, E Ele o faz com muito amor. Uma palavra de amor recupera forças, libera energias, recria a
 pessoa, o coração  se dilata até adquirir a dimensão do próprio de Deus, que pronuncia a Palavra. 
“Pela leitura se atinge a casca da letra, e se tenta atravessá-la para, na meditação, atingir o fruto
 do Espírito” (São Jerônimo). O Espírito  age dentro da Escritura (2Tm 3,16). Através da meditação, 
ele se comunica a nós, nos inspira, cria em nós os sentimentos de Jesus Cristo (Fl 2,5), ajuda-nos a 
descobrir o sentido pleno das palavras de Cristo (Jo 16,13). 
É o mesmo Espírito que enche a vastidão da terra (Sb 1,7). No passado ele animava os Juízes e 
Profetas, hoje ele também nos anima.

A meditação é uma atividade pessoal e também comunitária. A partilha do que cada um sente, 
descobre e  assume no contato com a Palavra de Deus é muito mais do que só a soma das palavras 
de cada um, é o sentido Eclesial da Bíblia.

3. Oração

O que o texto me faz dizer, nos faz dizer a Deus? Guigo descreve a importância da oração: ”vendo,
 pois, a alma que não pode por si mesma atingir a desejada doçura do conhecimento e da experiência,
 e que, “quando mais se aproxima do fundo do coração” (Sl 63,7), tanto mais distante é Deus 
(cf. Sl 63,8), ela se humilha e se refugia na oração. E diz: “Senhor, que não és contemplado senão 
pelos corações puros, eu procuro, pela leitura e pela meditação, qual é, e como pode ser adquirida a
 verdadeira doçura do coração, a fim de por ela conhecer-te ao menos um pouco”.

A oração, provocada pela meditação, inicia-se por uma atitude de admiração silenciosa e de adoração
 ao Senhor. A partir daí brota a nossa resposta à Palavra de Deus. Fala agora a Deus, responde-lhe, 
responde aos convites, aos apelos, às inspirações, aos pedidos, às mensagens que te dirigiu através 
da Palavra compreendida no Espírito Santo.Não vês que foste escolhido no seio da Trindade, no
 inefável colóquio entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo? Não te detenhais mais a refletir demasiado;
 entra em diálogo e fala como um amigo fala a seu amigo (Dt 34,10). Não procureis mais confirmar 
teus pensamentos com os seus, mas busca a Ele. 

A meditação tinha por fim a oração. É agora o momento. Enzo Bianchi recomenda: Nada de 
tagarelice, fala-lhe com segurança, com confiança e sem medo, longe de todo olhar sobre ti mesmo, 
mas encantado  com seu rosto que emergiu do texto no Cristo Senhor. Dá livre curso a tuas
 capacidades criativas de sensibilidade, de emoção, evocação, e coloca-se a serviço do Senhor. 
Não posso dar-te muitas indicações porque cada qual sabe reconhecer o encontro com seu Deus,
 mas não pode ensiná-lo aos outros, nem descrevê-lo em si mesmo. Que se pode dizer do fogo, 
quando este está dentro dele? Que se pode dizer da oração-contemplação no fim da Lectio Divina, 
a não ser que é a sarça ardente na qual o fogo queima? 

É importante que esta oração espontânea não seja só individual, mas também tenha sua expressão
 comunitária em forma de partilha. Na oração reflete-se ainda o itinerário pessoal de cada um no seu 
caminhar em direção a Deus e no seu esforço de se esvaziar-se de si para dar lugar a Deus, ao irmão,
 à comunidade.
É aqui que se situam as noites escuras com suas crises e dificuldades, com seus desertos e tentações, 
rezadas, meditadas e enfrentadas à luz da Palavra de Deus (Mt 4,1-11).

4. Contemplação

Cada vez, porém, que se chega ao último degrau, este se torna patamar para um novo começo. Ele 
recria a alma fatigada, nutre a que tem fome, sacia a sua aridez, faz-lhe esquecer tudo que é terretre,
 vivifica-a, mortificando-a por um admirável esquecimento de si mesma, e, embriagando-se, torna-a
 sóbria.

São Paulo, na carta aos Romanos, depois de falar da História da Salvação, do chamado dos pagãos,
 queerámos nós, e da salvação final dos judeus, exclama: “Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da 
ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e impenetravéis seus caminhos! Quem conhece 
o pensamento do Senhor? Quem se tornou seu conselheiro?”. É um grito de admiração. De louvor, 
de adoração, de contemplação. 

Contemplação é também a capacidade de perceber a presença de Deus em tudo, nos acontecimentos,
 na história, nos outros. Esta presença unifica os casos da vida. Guigo diz: “A leitura busca a doçura 
da vida bem-aventurada, a meditação a encontra, a oração a pede e a contemplação a saboreia. 
A leitura levacomida sólida à boca, a meditação a mastiga e rumina, a oração prova o seu gosto 
e a contemplação é o gosto da doçura já alcançada”. O que mais chama a atenção nos escritos de 
Guigo é a insistência em descrever a contemplação como uma saborosa curtição da doçura que 
relativiza tudo e, como que por um instante, antecipa algo da alegria que “Deus preparou para
 aqueles que o amam” (1Cor 2,9).

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

                               TRATADO DO PURGATÓRIO

                                                            de
Santa Catarina de Gênes - 1447-1510

Parte 2. Felicidade das almas do purgatório ; sua crescente visão de Deus, a razão da ferrugem

Não creio que se possa encontrar um contentamento comparável àquele de uma alma do purgatório, na excepção daquele dos santos do paraíso. Cada dia  este contentamento acresce nestas almas pela acção de Deus, acção que vai crescendo como vai consumindo-se contrariando esta acção divina . Este impedimento  é a ferrugem do pecado.
[A ferrugem não é um resto do pecado que ficou, nem uma má inclinação da vontade que seria o efeito dos pecados na alma, que cometeu durante a sua vida terrena ; sendo a nódoa da alma, uma falta de perfeição, na sequência dos pecados de outrora, cuja a vontade, no momento da morte, desligou-se totalmente .]
O fogo consome progressivamente esta ferrugem e assim a alma se desvenda cada vez mais sobre a influxo divino.
Do mesmo modo quando se tapa um objecto, já não consegue corresponder  ao resplendor do raio solar, não porque o sol seja insuficiente, ele que continua a brilhar, mas por impedimento daquilo que tapa o objecto. Venha a diminuir o obstáculo que o objecto se desvenda pela acção do sol ; ele aumentará á medida que o obstáculo diminui.
Assim a ferrugem do pecado é aquilo que encobre a alma.
No purgatório esta ferrugem é consumada pelo fogo. Mais ela se consome, mais a alma se expõe ao verdadeiro sol, a Deus. A sua felicidade aumenta à medida que a ferrugem desaparece e que a alma se expõe ao raio divino. Assim uma aumente e a outra diminui até que o tempo finalize. Não é  o sofrimento que a diminui, mas apenas o tempo de ficar nesta  agonia.
Quando à vontade, estas almas nunca podem dizer que estas penas sejam penas, tanto elas estão satisfeitas da vontade divina ás quais suas vontades estão unidas por pura caridade.

Traduçao nossa do francês do  Tratado do Purgatório 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015


A SABEDORIA É AUTENTICA QUANDO UNIDA À VIRTUDE

«João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele»
João Baptista ensina com palavras e com actos. Verdadeiro mestre, mostra pelo seu exemplo aquilo que afirma com a sua palavra. O saber faz o mestre, mas é a conduta que confere autoridade. [...] Ensinar pelos actos é a única regra daquele que quer instruir. A instrução pelas palavras é sabedoria; mas quando passa pelos actos é virtude. Por conseguinte, a sabedoria é autêntica quando unida à virtude: só então é divina e não humana. [...]

Comentário do dia por São Pedro Crisólogo (c. 406-450)
Bispo de Ravena, Doutor da Igreja
Sermão 167; CCL 248, 1025, PL 52, 636

segunda-feira, 20 de abril de 2015



«Rabi, quando chegaste cá? […] 
A obra de Deus é esta: crer»


Cristo recusou-Se a dar testemunho de Si mesmo, a dizer quem era e de onde vinha; Ele esteve entre os seus contemporâneos «como aquele que serve» (Lc 22,27). Aparentemente, só depois da ressurreição e, sobretudo, depois da ascensão, quando o Espírito Santo desceu, é que os apóstolos entenderam Quem tinha estado com eles. Souberam depois de tudo ter acabado, mas não antes. Vemos aqui, em minha opinião, a manifestação de um princípio geral que se nos apresenta muitas vezes, quer na Escritura, quer no mundo: que não discernimos a presença de Deus no momento em que Ele está connosco, mas somente depois, quando olhamos para o que se passou e que já não existe. […]
Acontecem-nos coisas agradáveis ou penosas, cujo significado não entendemos na altura, pois não vemos nelas a mão de Deus. Se tivermos uma fé firme, confessaremos aquilo que não vemos e aceitaremos tudo o que nos acontece como vindo dele. Mas, quer aceitemos com espírito de fé quer não, o certo é que não há outro modo de aceitar. Porque nós não vemos nada. Não percebemos porque foi que tal coisa aconteceu. Um dia Jacob clamou: «É sobre mim que tudo isto cai» (Gn 42,36); e dava essa impressão. […] E contudo, todas as suas desgraças acabariam em bem. Considerai seu filho José, vendido pelos irmãos, levado para o Egipto, feito prisioneiro, com os ferros a penetrar-lhe a própria alma, esperando que o Senhor lhe dirigisse um olhar benevolente. Muitas vezes o texto sagrado diz: «O Senhor estava com José.» […] De repente, percebeu aquilo que na altura lhe tinha parecido tão misterioso, e disse aos seus irmãos: «Deus enviou-me à vossa frente para vos preparar recursos neste país, vos conservar a vida e garantir a sobrevivência duma forma maravilhosa. Não, não fostes vós que me fizestes vir para aqui, foi Deus» (Gn 45,7-8).
Maravilhosa Providência, tão silenciosa e, no entanto, tão eficaz, tão constante e infalível! É ela que derrota o poder de Satanás, que não consegue discernir a mão de Deus a operar no curso dos acontecimentos.

Beato John Henry Newman (1801-1890)
Teólogo, Fundador do Oratório em Inglaterra
PPS IV,17 «Christ Manifested in Remembrance»

domingo, 19 de abril de 2015


                         Interpretação do Livro dos Salmos                                Carta de Santo Atanásio ano 350 D.C


Os ensinamentos abaixo foram retirados da Carta de Santo Atanásio à Marcelino sobre a Interpretação dos Salmos.Esta carta foi escrita por volta do ano 350 e trata da exegese e importância dos Salmos.

"Falando com maior precisão, pontualizemos então que se toda a Escritura divina é mestra de virtude e de fé autêntica, o livro dos Salmos oferece, ademais, um perfeito modelo de vida espiritual. Igual a quem se apresenta diante de um rei e assume as corretas atitudes corporais e verbais, não seja que apenas abra a boca, seja arrojado fora por sua falta de compostura, também a aquele que corre até a meta das virtudes e deseja conhecer a conduta do Salvador durante sua vida mortal; o sagrado Livro o conduz primeiro, através da leitura, à consideração dos movimentos da alma e, a partir daí, vai representando sucessivamente o resto, ensinando aos leitores graças a ditas expressões. Neste livro, chama a atenção que alguns salmos contenham narrações históricas, outros admoestações morais, outros profecias, outros súplicas e outros, todavia, confissão.

Na forma de narração
 , temos os seguintes salmos: 18; 43; 48; 49; 72; 76; 88; 89; 106; 113; 126; e 136.

Em forma de oração
 , temos os salmos: 16; 67; 89; 101; 131; e 141.

Os proferidos como súplica, petição instante
 , são os salmos: 5; 6; 7; 11; 12; 15; 24; 27; 30; 34; 37; 42; 53; 54; 55; 56; 58; 59; 60; 63; 82; 85; 87; 137; 139; e 142.

Em forma de súplica junto com ação de graças
 , temos o salmo 138.

Entre os que só suplicam
 , temos os salmos: 3; 25; 68; 69; 70; 73; 78; 79; 108; 122; 129; e 130.

Em forma de confissão
 , temos os salmos: 9; 74; 91; 104; 105; 106; 107; 110; 117; 135; e 137.

Aqueles que entrelaçam narração com confissão
 , são os salmos: 9; 74; 105; 106; 117; 135; e 137.

Um salmo que combina confissão com narração e ação de graças
 é o110.

Tem forma de admoestação o salmo 36.

Os salmos que contém profecia
 são: 20; 21; 44; 46; e 75.

No 109 temos anunciação junto com profecia.

Os salmos que exortam e prescrevem, e como que ordenam
 , são: 28; 32; 80; 94; 95; 96; 97; 102; 103; e 113.

O salmo 149 combina exortação com louvor.

Descrevem a vida ornada pela virtude
 os salmos: 104; 111; 118; 124; e 132.

Aqueles que expressam louvor
 são: 90; 112; 116; 134; 144; 145; 146; 148; e 150.

São salmos de ação de graças
 8; 9; 17; 33; 45; 62; 76; 84; 114; 115; 120; 121; 123; 125; 128; e 143.

Aqueles que anunciam uma promessa de bem-aventurança
 são: 1; 31; 40; 118; e 127.

Demonstrativo de alegre prontidão com (acréscimo) de cântico
 : o 107.

Outro há que exorta à fortaleza
 : o 80.

Temos os que reprovam aos ímpios e iníquos
 , como os: 12; 13; 35; 51; e 52.

O salmo 4 é uma invocação
 .

Aqueles salmos que falam [do cumprimento] de votos
 , são: o 19 e o 63.

Tem palavras de glorificação ao Senhor
 22; 26; 38; 39; 41; 61; 75; 83; 96; 98.

Acusações escritas para provocar vergonha
 são: o 57 e o 81.

Se encontram acentos hínicos
 nos: 47 e 64.

O salmo 65 é um canto de júbilo e se refere à ressurreição.

Outro, o 99, é unicamente canto de júbilo.

Estando, então, os salmos dispostos acima ordenados desta maneira, é possível aos leitores - como já
o disse antes - descobrir em cada um deles os movimentos e a constituição de sua alma, do mesmo modo que descobrem o gênero e o ensinamento que cada um lhes transmitem.

Igualmente se pode aprender deles as palavras a dizer para agradar o Senhor, ou com quais palavras expressar o desejo de corrigir-se e arrepender-se ou de dar-lhe graças. Tudo isto impede, ao que recita literalmente estas expressões, cair na impiedade. Já que não somente tenhamos de dar a razão das nossas obras ao Juiz (Supremo), como também de toda palavra inútil (Mt 12,36):

Se queres bendizer a alguém, aprendes como fazê-lo e em nome de quem
 , nos salmos 1; 31; 40; 11; 118 e 127.

Se desejas censurar as conjurações dos judeus contra o Salvador
 , aí tens o segundo (salmo 2) de nossos poemas.

Se os teus te perseguem e muitos se levantam contra ti, recita o terceiro
 (salmo 3).

Se estando aflito, invocaste ao Senhor e porque te escutou queres dar-lhe graças, entoa
 4, ou o 74, ou o 114.

Se a ti basta que os malfeitores te preparam armadilhas e queres que bem de manhã tua oração chegue a seus ouvidos
 recita o 5.

Se a ameaça de castigo do Senhor te intranquiliza
 , podes recitar o 6 ou o 37.

Se alguns se reúnem para tramar algo contra ti, como o fez Ajitófel contra Davi, e chega a teus ouvidos, canta
 o salmo e confia no Senhor em te defender.

Se, observando a extensão universal da graça do Salvador e a salvação do gênero humano, queres conversar com Deus
 , canta o salmo 8.

Queres entoar o cântico da vindima, para dar graças ao Senhor?
 Tens novamente a tua disposição o 8 e também o 83.

Em honra à vitória sobre os inimigos e a liberação da criatura, sem vangloriar-se, e sim reconhecendo que estes feitos magníficos são obra do Filho de Deus
 , recita o já mencionado salmo 9.

Se alguém quer confundir-te ou assustar-te, tem confiança no Senhor e repete o salmo 10
 .

Ao observar a soberba de tantos e como o mal cresce, ao ponto que já não há ações santas entre os homens, busca refúgio no Senhor e diga
 osalmo 11.

Prolongam os inimigos seus ataques? Não desesperes como se Deus te esquecera, e sim invoca-o cantando
 salmo 12.

Não te associes de modo algum com os que blasfemam impiamente contra a Providência, mas bem suplica ao Senhor recitando
 os salmos 13 e 52.

Aquele que queira aprender quem é o cidadão do reino dos céus
 deve dizer o salmo 14.

Necessitas orar porque teus adversários assediam tua alma?
 Canta os salmos 16; 85; 87 e 140.

Se quiseres saber como rezava Moisés
 , aí tens o salmo 89.

Foste libertado de teus inimigos e perseguidores?
 Canta o salmo 17.

Te maravilham a ordem da criação e a providente graça que nela resplandece, como também os preceitos santos da Lei?
 Canta então o 18 e o 23.

Vendo sofrer os atribulados
 , consola-os orando e recitando-lhes as palavras do salmo 19.

Vês que o Senhor te conduz e pastoreia, guiando-te pelo caminho reto
 , alegra-te dele e salmodia o 22!

Te submergem os inimigos?
 Eleva tua alma até Deus salmodiando o 24 e vejas que os iníquos caem malogrados.

Te cercam os inimigos, tendo suas mãos totalmente manchadas de sangue, e não buscam mais que perder-te e confundir-te? Então, não confies tua justiça a um homem - toda justiça humana é suspeita! - mas peça ao Senhor que te faça justiça, já que ele é o único Juiz
 , recitando o 25; 34 ou 42.

Quando te assaltam violentamente os inimigos e se congregam como um exército e te depreciam como se ainda não estivesses ungido, e por isso te façam a guerra, não temas
 , canta muito o salmo 26.

A natureza humana é débil, e se [apesar dela] os perseguidores se fazem tão desavergonhados e insistem, não lhes faças caso
 , suplica em troca ao Senhor com o salmo 27.

Se queres aprender como oferecer sacrifícios ao Senhor com ação de graças
 , recita então com inteligência espiritual o salmo 28.

Se dedicas e consagras tua casa, isto é, tua alma que hospeda ao Senhor, como também a casa corpórea na que moras fisicamente
 , recita com ação de graças o 29 e, entre os salmos graduais, o 126.

Se vês que és depreciado e perseguido por amigos e conhecidos à causa da verdade
 , não perdas o ânimo por isso, nem temas aos que se te opõem, e sim, aparta-te deles e, contemplando o futuro, salmodia o 30.

Se ao ver aos batizados e resgatados de sua vida corruptível, ponderas e admiras a misericórdia de Deus
 , canta em te favor tuas louvações com osalmo 31.

Se desejas salmodiar em companhia de muitos
 , reúne os homens justos e probos, e recita o 32.

Se caíste vítima de teus inimigos e sagazmente pudeste evitar seus assédios
 , reúne os homens mansos e recita em sua presença o salmo 33.

Se vês o céu para cometer o mal que impera entre os transgressores da Lei
 , não penses que a maldade é algo natural neles, como o afirmam os hereges, e sim recita o 35 e te convenças de que a eles lhes correspondem a responsabilidade pelo pecado.

Se vês os malvados cometerem muitas iniqüidades e avalentarem-se contra os humildes, e queres exortar a alguém que nem se junte com os iníquos, nem lhes tenha inveja, pois seu porvir será a queda
 , então dê para ti mesmo e para os outros o 36.

Se, por outro lado, querendo prestar atenção à tua própria pessoa, e vendo que o inimigo se dispõe a atacar-te
 - pois lhe agrada provocar a este tipo de pessoas - querendo fortalecer-te contra ele, canta o salmo 38.

Se tendo que suportar ataques dos perseguidores, queres aprender as vantagens da paciência
 , recita então o 39.

Quando vendo multidão de pobres e mendigos, queres mostrar-te misericordioso com eles, serás capaz de sê-lo graças
 à recitação dosalmo 40, já que com ele elogias aos que já atuaram compassivamente, e exortas aos demais a que ajam de igual maneira.

Se ansiando buscar a Deus, escutas as burlas dos adversários, não te perturbes, mas considerando a recompensa eterna de tal nostalgia, consola tua alma com a esperança em Deus
 , e, superados os pesares que te afligem nesta vida, entoa o salmo 41.

Se não queres deixar de recordar os inumeráveis benefícios que o Senhor outorgou a teus pais, como o êxodo do Egito e a estadia no deserto
 , e que bom é Deus e quão ingratos os homens, tens os salmos 43; 77; 88; 104; 105; 106 e 113.

Se havendo-te refugiado em Deus, poderoso defensor no perigo, queres dar-lhe graças
 e narrar suas misericórdias para contigo, tens o 45.

Pecaste, sentes vergonha, buscas fazer penitência e alcançar misericórdia?
 Encontrarás palavras de arrependimento e confissão no salmo 50.

Ainda assim deves suportar calunias por parte de um rei iníquo, e vês como se encoraja o caluniador
 , alija-te dali e usa as expressões que encontras no 51.

Se te atacam, te acossam e querem trair-te, entregando-te à justiça
 , como o fizeram zifeos e filisteus com Davi, não perdas o valor: tem ânimo, confia no Senhor e louvai-o com as palavras dos salmos 53 e 55.

A perseguição te sobrevem, cai sobre ti e, sem sabê-lo, penetra inesperadamente na cova que te escondias
 , nem assim temas, pois ainda nesse aperto encontraras palavras de consolo e de memorial indelével nos salmos 56 e 141.

Se quem te persegue dá a ordem de vigiar tua casa, e tu, apesar de tudo, logras escapar, dá graças a Deus, e inscreve o agradecimento em teu coração
 , como sobre uma estrela indelével, em memória de que não pereceste e entoa o salmo 58.

Se os inimigos que te afligem proferem insultos, e os que aparentavam ser amigos lançam acusações contra ti, e isto perturba tua oração por um breve tempo
 , reconforta-te louvando a Deus e recitando as palavras do54.

Contra os hipócritas e os que se vangloriam descaradamente
 , recita - para vergonha sua - o salmo 57.

Contra os que arremetem selvagemente contra ti e querem arrebatar-te a alma, contraponha tua confiança e adesão ao Senhor
 ; quanto mais se encorajem eles, tanto mais descansa nele, recitando o 61.

Se perseguido, retira-te para o deserto e nada temas por estar ali só, pois tens a Deus junto de ti
 , a quem, muito de madrugada, podes cantar-lhe o 62.

Se te aterrorizam os inimigos e não cessam em conjurarem contra ti, buscando-te sem descanso, ainda que sejam muitos, não te aflijas
 , já que seus ataques serão como feridas causadas por flechas atiradas por crianças; entoa, então (confiante), os salmos 63; 64; 69 e 70.

Se desejas louvar a Deus
 recita o 64.

E quando queiras catequizar alguém acerca da ressurreição
 , entoa o65.

Imploras a misericórdia do Senhor?
 Louva-o salmodiando o 66.

Se vês que os malvados prosperam gozando de paz e os justos
 , em troca, vivem em aflição, para não tropeçar nem escandalizar-te, recita também tu o 72.

Quando a ira de Deus se inflama contra o povo
 , tenhas palavras sábias para seu consolo no 73.

Se andas necessitado de confissão
 , salmodia o 9; 74; 91; 104; 105; 106; 107; 110; 117; 125 e 137.

Queres confundir e envergonhar os pagãos e hereges, demostrando que nem um só deles possui o conhecimento de Deus, e sim unicamente a Igreja Católica?
 Podes, se assim o pensas, cantar e recitar inteligentemente as palavras do 75.

Se teus inimigos te perseguem e te cortam toda possibilidade de fuga
 , ainda que estejas muito afligido e grandemente confundido, não desesperes, e sim clama; e se teu grito é escutado, dá graças a Deus recitando o 76.

Porém, se os inimigos persistem e invadem e profanam o templo de Deus, matando os santos e arremessando seus cadáveres às aves do céu
 , não te deixes intimidar nem temas sua crueldade, e sim compadece com os que padecem e ora a Deus com o salmo 78.

Se desejas louvar ao Senhor em dia de festa
 , convoca os servos de Deus e recita os salmos 80 e 94.

E se novamente os inimigos todos, se reúnem, assaltando-te por todas as partes, proferindo ameaças até à casa de Deus e aliando-se contra a piedade
 , não te amedrontes por sua multidão ou seu poder, já que tens uma âncora de esperança nas palavras do salmo 82.

Se vendo a casa do Senhor e seus tabernáculos eternos, sentes nostalgia por eles
 , como tinha o Apóstolo, recita o salmo 83.

Quando havendo cessado a ira e terminado o cativeiro, quiseras dar graças a Deus
 , tens o 84 e o 125.

Se quiseres saber a diferença que medeia entre a Igreja católica e os cismáticos, e envergonhar estes últimos
 , podes pronunciar as palavras do86.

Se quiseres exortar-te a ti e a outros, a render culto verdadeiro a Deus, demostrando que a esperança em Deus não fica confundida
 , e sim que, ao contrário, a alma fica fortalecida, louva a Deus recitando o 90.

Desejas salmodiar o Sábado?
 Tens o 91.

Queres dar graças no dia do Senhor?
 Tens o 23; ou, desejas fazê-lo no segundo dia da semana? Recita o 47.

Queres glorificar a Deus no dia de preparação?
 Tens o louvor do 92.

Porque então, quando ocorreu a crucifixão, foi edificada a casa ainda que os inimigos trataram de rodeá-la, é conveniente cantar como cântico triunfal 
o que se enuncia no 92.

Se te sobrevindo o cativeiro, e a casa, sendo derrubada, volta a ser edificada
 , canta o que se contém no 95.

A terra se livrou dos guerreiros e apareceu a paz: reina o Senhor e tu queres fazê-lo objeto de teus louvores
 , aí tens o 96.

Queres salmodiar o quarto dia da semana?
 Faça-o com o 93pois num dia como esse foi o Senhor entregue e começou a assumir e executar o juízo contrário à morte, triunfando confiadamente sobre elaSe lês o Evangelho, verás que no quarto dia da semana os judeus se reuniram em Conselho contra o Senhor, e também verás que com todo valor começou a procurar-nos justiça contra o diabo: salmodia, com respeito a tudo isto, com as palavras do 93.

Se, ademais, observas a providência e o poder universal do Senhor, e queres instruir a alguns na obediência e na fé
 , exorta-os diante de tudo a confessar decididamente, salmodiando o 99.

Se tens reconhecido o poder de seu juízo, quer dizer que Deus julga temperando a justiça com sua misericórdia
 , e queres acercar-te dele, tens para este propósito as palavras do 100 entre os salmos.

Nossa natureza é débil... se as angústias da vida te fizeram similar a um mendigo, e sentindo-te exausto buscas consolo
 , entoa o 101.

É conveniente que sempre e em todo lugar demos graças a Deus... se desejas bendizê-lo, estimula tua alma
 recitando o 102 e o 103.

Queres louvar a Deus e saber, como, por que motivos e com quais palavras fazê-lo?
 Tens o 104; 106; 134; 145; 146; 147; 148 e 150.

Prestas fé ao que disse o Senhor e tens fé nas palavras que tu mesmo dizes quando rezas?
 Profere o 115.

Sentes que vais progredindo gradualmente em tuas obras, de modo que podes fazer tuas as palavras: "esquecendo o que fica atrás de mim, me lanço até o que está adiante" (Fil 3,13)? Podes então entoar para cada um dos degraus de teu adiantar um dos quinze salmos graduais.

Tens sido conduzido ao cativeiro por pensamentos estranhos e te achas nostalgicamente puxado por eles? Te embarga o arrependimento, desejas não cair no futuro e, ainda assim, segues cativo deles?
 Senta-te, chora, e como o fez Anato ao povo, pronuncia as palavras do 136!

És tentado e, assim, sondado e provado?
 Se quando superada a tentação quiseres dar graças, utiliza o salmo 138.

Te achas novamente acossado pelos inimigos e queres ser libertado?
Pronuncia as palavras do 139.

Desejas suplicar e orar?
 Salmodia o 5 e o 142.

Se alçado o tirânico inimigo contra o povo e contra ti, ao modo de Golias contra Davi, não temas: tenha fé
 , e como Davi, salmodia o 143.

Se maravilhado pelos benefícios que Deus outorgou a todos e também a ti, queres bendizê-lo
 , repete as palavras que Davi disse no 144.

Queres cantar e louvar ao Senhor?
 O que deves entoar está nos salmos 92 e 97.

Suponhamos que desejas entoar os salmos que resumem o louvor a Deus, e que vão encabeçados pela Aleluia
 , podes usar: o 104; 105; 106; 111; 112; 113; 114; 115; 116; 117; 118; 134; 135; 145; 146; 147; 148; 149 e o 150.

Se ao salmodiar queres destacar o que se refere ao Salvador, encontrarás referências praticamente em cada salmo
 ; assim, por exemplo:

Tens o 44 e o 100
 , que proclamam tanto sua geração eterna do Pai como sua vinda na carne;

21 e o 68 que preanunciam a cruz divina, como também todos os padecimentos e perseguições que suportou por nós;

2 e o 108 que apregoam a maldade e as perseguições dos judeus e a traição de Judas Iscariotes;

20, 49 e 71 proclamam seu reinado e sua potestade de julgar, como também sua manifestação a nós na carne e a vocação dos pagãos.

15 anuncia sua ressurreição dentre os mortos;

23 e 46 anunciam sua ascensão aos céus.

Ao ler o 92, 95, 97 ou 98, cais na conta e contemplas os benefícios que o Salvador nos outorgou graças a seus padecimentos
 .

FIM!
http://apologeticadafecatolica.blogspot.pt/2012/05/sobre-leitura-interpretacao-do-livro.html